terça-feira, 29 de março de 2011

Para poucos

Confunde-se



Confunde-se estudo com virtude. Não é. Estudo é escolha, opção como qualquer outra. Escolhe-se estudar da mesma forma que se escolhe ler este ou aquele livro, ir ao cinema na quarta ou no sábado. Naturalmente, como as demais, é escolha pautada em elementos subjetivos - gosto, vontades, sonhos, aptidões, inclinações, determinação. Não gostar de estudar não faz má pessoa. Pois virtude é coisa que o estudo não é.

Confunde-se também respeito com virtude. Não é. Respeito é valor e como tal deveria habitar em todos como pressuposto para uma vida minimamente harmoniosa. Por ser de caráter consciente e racional, caminha ao lado do polegar opositor e do telencéfalo altamente desenvolvido como traço característico daquilo que é ser humano.

Porque virtude mesmo é outra coisa. Virtude é aquilo em nós que nos põe a praticar o bem e evitar o mal. Não se escolhe ser virtuoso, isso vem do caráter, do exercício moral de preocupar-se consigo e com o próximo - não é causa, é consequência. Ser paciente é ser virtuoso. Ter gratidão também. São coisas que nem todos são e que ninguém tem a obrigação de ser. Mas que sendo, eleva.

Entretanto, e talvez seja esse o cerne do problema, há quem confunda deboche e indiferença com virtude. Cultiva-se a cada um como fosse planta do trópico regada ao sol. Como consequência destruidora desse engano, ignora-se a memória, esquece-se do sonho partilhado, da dedicação gratuita, dos laços amparados no afeto e no comprometimento. Esvazia-se a si e ao outro, como fossem pouco. Como fossem descartáveis.

Assim, coisificando-se, um emaranhado de lembranças e cuidados dão lugar ao insulto, ainda que velado, calado nos olhares. Vive-se, então, onde só o defeito vigora. Onde só o defeito afasta. E triste é passar pela vida assim.




"Eu sei porque vi com meus olhos. Além dos luminosos que

não brilham mais, dorme às escuras a lua"