sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

texto - nonos e #terceirotiporei

Sobre um ano difícil, mas que soube, justamente por isso, fazer de cada um dos envolvidos nessa história uma pessoa indiscutivelmente melhor.

um beijo.



De quantos guardados é feita a memória, de quanta espera? Dostoiévski, em seu primoroso "O Idiota", desapercebidamente afirma que 'a beleza salvará o mundo'. Não a beleza das formas e dos corpos, mas a busca por uma beleza maiúscula, por um quê de qualquer coisa que nos leve além, que nos faça pertencer um tanto mais ao que é ser humano.
Chega a ser engraçado, mas cada um de vocês, particularmente, mesmo sem nunca ter ouvido falar no autor, na obra, na frase, vestiu, de maneira singular, essa afirmação de verdade.
O carinho dispensado por vocês, nonos anos, transformou manhãs, alargou fronteiras.
Os textos semanais, as músicas (alto lá! "É primavera, te amo!"), as declarações, implicâncias, brincadeiras e desabafos fizeram de cada um de nós, seus professores, cúmplices dessa alegria que namora a felicidade. Quem mais colocaria homens feitos num palco, freneticamente abrindo as suas asas e soltando as suas feras?
Por isso, nunca deixem que os convençam de não é possível, de que aprender é obrigatoriamente chato e, acima de tudo, de que o caminho mais fácil é o único possível. Vocês, e demonstraram isso ao longo de todo o ano, são maiores do que pensam. Então, por favor, não deixem que o medo de vencer e a rotina afoguem os sonhos de vocês. Seus sonhos são sua única propriedade, luta por cada um deles como se luta pela própria vida.
#Terceirotiporei, quem é você, afinal? A complexidade das histórias percorridas todo esse tempo tornam tão difícil a tarefa de nomear... não nomeemos, então. Mesmo porque, que são os nomes diante dos nossos ensaios ao fim da tarde, das discussões de quarta-feira, das tantas conversas sérias que tivemos sobre tudo? Não foi um ano fácil, mas alguém disse que crescer seria?
Certa vez, num desses dias cinzas, ouvi de vocês: "Com você, aprendi a ser exatamente como sou, sem que ninguém me apontasse o dedo e me obrigasse a estar em algum padrão, aprendi a ver a pessoa pelo que ela é e não por como ela aparenta ser. Aprendi a ver com o coração, que é o que dita o comportamento e o pensamento. O mundo quer que eu cale a boca, feche os olhos e seja mais uma no meio da multidão; você me ajuda a, se preciso, ir, falar, pensar o que quiser, como quiser, quando e onde quiser, a nadar contra a maré". Hoje respondo, aprendi tudo isso com vocês também.
Em nome de todos os professores, agradeço o privilégio de compartilhar com todos vocês o afeto e o conflito. Não nos esqueceremos, não se esqueçam.
Aos nono, até já. Ao terceiro, até breve. Um beijo.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

2° Ano - pra vocês

Acho que nunca disse a vocês, mas devo, a cada um, um tanto de mim. Sabe, nunca dei aula para minha irmã - quando o faria, ela e as minhas outras missangas foram pra Vitória. Hoje sei que esse é um dos meus sonhos que não irá se realizar. Não reclamo.
Tê-los como alunos me possibilitou entendê-la melhor, minha maior amiga. No primeiro dia em que me vi como professor de vocês percebi que eram pedaços da minha missanga do meio que estavam ali. Percebi que, me debruçando sobre cada um, sobre suas histórias, seus casos, dava um passo significativo em diração à minha pequena.
Sim, me dei conta de que os amigos são profundamente responsáveis pelo que somos, pois nas suas piadas estavam as piadas dela; nos seus melindres também. Às vezes me pegava - me pego - completamente abobado com acontecimentos tão pequenos - nossa, é ela ali!
Vocês, independente da classe, sempre serão a turma dela, pois afirmo, categoricamente, que construíram em conjunto essa coisa indecifrável a que chamamos caráter.
Gente, muito obrigado. Sem vocês as coisas seriam diferentes em mim, no meu jeito de entendê-la. Acho que é por isso que insisto tanto. Ensiná-los é cuidar daquilo que ficou da minha família aqui.
Um dia eu quis dar aulas pra minha irmã do meio. Vieram vocês. Amém.
Olha, eu sei que é inverno, mas tem um céu lá fora. O infinito não precisa ser azul.





"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". É bobo, é do Pequeno Príncipe, mas é tão verdade.

sábado, 26 de junho de 2010

Texto II - Terceiro Ano

Segue agora a resposta de Zeca Baleiro à carta de Luciano Huck.



O rolo do Rolex

ZECA BALEIRO


NO INÍCIO do mês, o apresentador Luciano Huck escreveu um texto sobre o roubo de seu Rolex. O artigo gerou uma avalanche de cartas ao jornal, entre as quais uma escrita por mim. Não me considero um polemista, pelo menos não no sentido espetaculoso da palavra. Temo, por ser público, parecer alguém em busca de autopromoção, algo que abomino. Por outro lado, não arredo pé de uma boa discussão, o que sempre me parece salutar. Por isso resolvi aceitar o convite a expor minha opinião, já distorcida desde então.
Reconheço que minha carta, curta, grossa e escrita num instante emocionado, num impulso, não é um primor de clareza e sabia que corria o risco de interpretações toscas. Mas há momentos em que me parece necessário botar a boca no trombone, nem que seja para não poluir o fígado com rancores inúteis. Como uma provocação.
Foi o que fiz. Foi o que fez Huck, revoltado ao ver lesado seu patrimônio, sentimento, aliás, legítimo. Eu também reclamaria caso roubassem algo comprado com o suor do rosto. Reclamaria na mesa de bar, em família, na roda de amigos. Nunca num jornal.
Esse argumento, apesar de prosaico, é pra mim o xis da questão. Por que um cidadão vem a público mostrar sua revolta com a situação do país, alardeando senso de justiça social, só quando é roubado? Lançando mão de privilégio dado a personalidades, utiliza um espaço de debates políticos e adultos para reclamações pessoais (sim, não fez mais que isso), escorado em argumentos quase infantis, como "sou cidadão, pago meus impostos". Dias depois, Ferréz, um porta-voz da periferia, escreveu texto no mesmo espaço, "romanceando" o ocorrido. Foi acusado de glamourizar o roubo e de fazer apologia do crime.
Antes que me acusem de ressentido ou revanchista, friso que lamento a violência sofrida por Huck. Não tenho nada pessoalmente contra ele, de quem não sei muito. Considero-o um bom profissional, alguém dotado de certa sensibilidade para lidar com o grande público, o que por si só me parece admirável. À distância, sei de sua rápida ascensão na TV. É, portanto, o que os mitificadores gostam de chamar de "vencedor". Alguém que conquista seu espaço à custa de trabalho me parece digno de admiração.
E-mails de leitores que chegaram até mim (os mais brandos me chamavam de "marxista babaca" e "comunista de museu") revelam uma confusão terrível de conceitos (e preconceitos) e idéias mal formuladas (há raras exceções) e me fizeram reafirmar minha triste tese de botequim de que o pensamento do nosso tempo está embotado, e as pessoas, desarticuladas.
Vi dois pobres estereótipos serem fortemente reiterados. Os que espinafraram Huck eram "comunistas", "petistas", "fascistas". Os que o apoiavam eram "burgueses", "elite", palavra que desafortunadamente usei em minha carta. Elite é palavra perigosa e, de tão levianamente usada, esquecemos seu real sentido. Recorro ao "Houaiss": "Elite - 1. o que há de mais valorizado e de melhor qualidade, especialmente em um grupo social [este sentido não se aplica à grande maioria dos ricos brasileiros]; 2. minoria que detém o prestígio e o domínio sobre o grupo social [este, sim]".
A surpreendente repercussão do fato revela que a disparidade social é um calo no pé de nossa sociedade, para o qual não parece haver remédio -desfilaram intolerância e ódio à flor da pele, a destacar o espantoso texto de Reinaldo Azevedo, colunista da revista "Veja", notório reduto da ultradireita caricata, mas nem por isso menos perigosa. Amparado em uma hipócrita "consciência democrática", propõe vetar o direito à expressão (represália a Ferréz), uma das maiores conquistas do nosso ralo processo democrático. Não cabendo em si, dispara esta pérola: "Sem ela [a propriedade privada], estaríamos de tacape na mão, puxando as moças pelos cabelos". Confesso que me peguei a imaginar esse sr. de tacape em mãos, lutando por seu lugar à sombra sem o escudo de uma revista fascistóide. Os idiotas devem ter direito à expressão, sim, sr. Reinaldo. Seu texto é prova disso.
Igual direito de expressão foi dado a Huck e Ferréz. Do imbróglio, sobram-me duas parcas conclusões. A exclusão social não justifica a delinqüência ou o pendor ao crime, mas ninguém poderá negar que alguém sem direito à escola, que cresce num cenário de miséria e abandono, está mais vulnerável aos apelos da vida bandida. Por seu turno, pessoas públicas não são blindadas (seus carros podem ser) e estão sujeitas a roubos, violências ou à desaprovação de leitores, especialmente se cometem textos fúteis sobre questões tão críticas como essa ora em debate.
Por
fim, devo dizer que sempre pensei a existência como algo muito mais complexo do que um mero embate entre ricos e pobres, esquerda e direita, conservadores e progressistas, excluídos e privilegiados. O tosco debate em torno do desabafo nervoso de Huck pôs novas pulgas na minha orelha. Ao que parece, desde as priscas eras, o problema do mundo é mesmo um só -uma luta de classes cruel e sem fim.

Texto 1 - 3º Ano

Texto escrito por Luciano Huck, publicado na Folha de São Paulo, em função do assalto sofrido em 2007.


Opinião: Pensamentos quase póstumos

LUCIANO HUCK

Luciano Huck foi assassinado. Manchete do "Jornal Nacional" de ontem. E eu, algumas páginas à frente neste diário, provavelmente no caderno policial. E, quem sabe, uma homenagem póstuma no caderno de cultura.

Não veria meu segundo filho. Deixaria órfã uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio.
Por quê? Por causa de um relógio.

Como brasileiro, tenho até pena dos dois pobres coitados montados naquela moto com um par de capacetes velhos e um 38 bem carregado.

Provavelmente não tiveram infância e educação, muito menos oportunidades. O que não justifica ficar tentando matar as pessoas em plena luz do dia. O lugar deles é na cadeia.

Agora, como cidadão paulistano, fico revoltado. Juro que pago todos os meus impostos, uma fortuna. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa.

Adoro São Paulo. É a minha cidade. Nasci aqui. As minhas raízes estão aqui. Defendo esta cidade. Mas a situação está ficando indefensável.

Passei um dia na cidade nesta semana -moro no Rio por motivos profissionais- e três assaltos passaram por mim. Meu irmão, uma funcionária e eu. Foi-se um relógio que acabara de ganhar da minha esposa em comemoração ao meu aniversário. Todos nos Jardins, com assaltantes armados, de motos e revólveres.

Onde está a polícia? Onde está a "Elite da Tropa"? Quem sabe até a "Tropa de Elite"! Chamem o comandante Nascimento! Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade. Tenho certeza de que esse tipo de assalto ao transeunte, ao motorista, não leva mais do que 30 dias para ser extinto. Dois ladrões a bordo de uma moto, com uma coleção de relógios e pertences alheios na mochila e um par de armas de fogo não se teletransportam da rua Renato Paes de Barros para o infinito.

Passo o dia pensando em como deixar as pessoas mais felizes e como tentar fazer este país mais bacana. TV diverte e a ONG que presido tem um trabalho sério e eficiente em sua missão. Meu prazer passa pelo bem-estar coletivo, não tenho dúvidas disso.

Confesso que já andei de carro blindado, mas aboli. Por filosofia. Concluí que não era isso que queria para a minha cidade. Não queria assumir que estávamos vivendo em Bogotá. Errei na mosca. Bogotá melhorou muito. E nós? Bem, nós estamos chafurdados na violência urbana e não vejo perspectiva de sairmos do atoleiro.

Escrevo este texto não para colocar a revolta de alguém que perdeu o rolex, mas a indignação de alguém que de alguma forma dirigiu sua vida e sua energia para ajudar a construir um cenário mais maduro, mais profissional, mais equilibrado e justo e concluir --com um 38 na testa-- que o país está em diversas frentes caminhando nessa direção, mas, de outro lado, continua mergulhado em problemas quase "infantis" para uma sociedade moderna e justa.

De um lado, a pujança do Brasil. Mas, do outro, crianças sendo assassinadas a golpes de estilete na periferia, assaltos a mão armada sendo executados em série nos bairros ricos, corruptos notórios e comprovados mantendo-se no governo. Nem Bogotá é mais aqui.

Onde estão os projetos? Onde estão as políticas públicas de segurança? Onde está a polícia? Quem compra as centenas de relógios roubados? Onde vende? Não acredito que a polícia não saiba. Finge não saber. Alguém consegue explicar um assassino condenado que passa final de semana em casa!? Qual é a lógica disso? Ou um par de "extraterrestres" fortemente armado desfilando pelos bairros nobres de São Paulo?

Estou à procura de um salvador da pátria. Pensei que poderia ser o Mano Brown, mas, no "Roda Vida" da última segunda-feira, descobri que ele não é nem quer ser o tal. Pensei no comandante Nascimento, mas descobri que, na verdade, "Tropa de Elite" é uma obra de ficção e que aquele na tela é o Wagner Moura, o Olavo da novela. Pensei no presidente, mas não sei no que ele está pensando.

Enfim, pensei, pensei, pensei. Enquanto isso, João Dória Jr. grita: "Cansei". O Lobão canta: "Peidei". Pensando, cansado ou peidando, hoje posso dizer que sou parte das estatísticas da violência em São Paulo. E, se você ainda não tem um assalto para chamar de seu, não se preocupe: a sua hora vai chegar.

Desculpem o desabafo, mas, hoje amanheci um cidadão envergonhado de ser paulistano, um brasileiro humilhado por um calibre 38 e um homem que correu o risco de não ver os seus filhos crescerem por causa de um relógio.

Isso não está certo.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

1º Ano

Pessoal,

O conteúdo de 'Conectivos' já estava no blog.
Segue o link:

http://maetoestudando.blogspot.com/2009/10/conjuncoes-e-preposicoes-1-ano.html


Abraço,

Victor.

domingo, 13 de junho de 2010

Pronomes - 1º Ano

No que se refere aos pronomes, além da já conhecida classificação, precisamos estabelecer algumas distinções:

* Pronomes Adjetivos - São aqueles que se associam a substantivos, modificando-os (assumem, potanto, a função característica dos adjetivos)

Ex.: Meu livro é melhor que o seu. - Perceba que o termo em destaque está associado ao nome 'livro', restringindo-o (já não se fala mais de qualquer livro, mas daquele que me pertence).

* Pronomes Substantivos - São os que substituem os nomes, isto é, aqueles que ocupam um lugar naturalmente ocupado por um substantivo.

Ex.: Nós fomos à praia. - Veja que aqui, ao invés de dar o nome de todos aqueles que foram à praia, colocou-se apenas o pronome destacado, que os substitui, fazendo, assim, papel de substantivo.


** Pronomes Anafóricos - São aqueles que retomam um nome colocado, naturalmente, anteriormente.

Ex.: Quando vimos João, ele estava muito bonito. - Ao invés de se repetir o nome 'João', utilizou-se o pronome 'ele', justamente para evitar um segundo aparecimento do termo. Assim, temos que a função do Anafórico é auxiliar a coesão no interior do texto.

** Pronomes Catafóricos - São os que antecipam um nome. Como surjem antes dele, garantem certa ideia de suspense.

Ex.: Ele subia as escadas, logo nos encontraria naquela situação: meu marido chegava e nem haviamos terminado de preparar sua festa surpresa. - Atente-se para o fato de que o pronome 'ele', logo no início, refere-se ao termo 'marido', que surgirá posteriormente.

***Não esquecer:

Os pronomes de tratamento, ainda que sejam de segunda pessoa, flexionam-se como de terceira, daí 'você vai' e não 'você vais'.
Além disso, há a questão do Vossa e do Sua:

Utiliza-se o pronome Vossa quando falamos diretamente com pessoa:

Vossa Excelência, queira me acompanhar.

Já o Sua é empregado ao se falar da pessoa, quando nos referimos a ela:

Hoje Sua Excelência fez um belo discurso, no qual tratou dos problemas de nossa educação.

Excercício - Subordinadas - 2º Ano

Identifique e classifique as Orações Subordinadas:

1- Pareceu-me que tudo estava por um fio.

2- Ele estava restrito à ideia de que viajaria por todo o mundo.

3- Quando chegarmos, poderemos descansar.

4- O problema é que ninguém quer nada com nada.

5- Gosto das roupas dessa marca, que são as mais bonitas do mercado.

6- O frio aumentava à medida que subíamos a serra.

7- Constava que você não fizera as tarefas.

8- Se não cumprimos nossas obrigações, não merecemos nossos direitos.

9- Passei a entender por que as mães são felizes.

10- Todo o processo foi executado conforme o planejado.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Carta - 3º Ano

Prezados Senhores,


Uns amigos me falaram que os senhores estão para destruir 45 mil pares de tênis falsificados com a marca Nike e que, para esse fim, uma máquina especial já teria até sido adquirida. A razão desta cartinha é um pedido. Um pedido muito urgente.
Antes de mais nada, devo dizer aos senhores que nada tenho contra a destruição de tênis, ou de bonecas Barbie, ou de qualquer coisa que tenha sido pirateada. Afinal, a marca é dos senhores, e quem usa essa marca indevidamente sabe que está correndo um risco. Destruam, portanto. Com a máquina, sem a máquina, destruam. Destruir é um direito dos senhores. Mas, por favor, reservem um par, um único par desses tênis que serão destruídos para este que vos escreve. Este pedido é motivado por duas razões: em primeiro lugar, sou um grande admirador da marca Nike, mesmo falsificada. Aliás, estive olhando os tênis pirateados e devo confessar que não vi grande diferença deles para os verdadeiros.
Em segundo lugar, e isto é o mais importante, sou pobre, pobre e ignorante. Quem está escrevendo esta carta para mim é um vizinho, homem bondoso. Ele vai inclusive colocá-la no correio, porque eu não tenho dinheiro para o selo. Nem dinheiro para selo, nem para qualquer outra coisa: sou pobre como um rato. Mas a pobreza não impede de sonhar, e eu sempre sonhei com um tênis Nike. Os senhores não têm idéia de como isso será importante para mim. Meus amigos, por exemplo, vão me olhar de outra maneira se eu aparecer de Nike. Eu direi, naturalmente, que foi presente (não quero que pensem que andei roubando), mas sei que a admiração deles não diminuirá: afinal, quem pode receber um Nike de presente pode receber muitas outras coisas. Verão que não sou o coitado que pareço.
Uma última ponderação: a mim não importa que o tênis seja falsificado, que ele leve a marca Nike sem ser Nike. Porque, vejam, tudo em minha vida é assim. Moro num barraco que não pode ser chamado de casa, mas, para todos os efeitos, chamo-o de casa. Uso a camiseta de uma universidade americana, com dizeres em inglês, que não entendo, mas nunca estive nem sequer perto da universidade – é uma camiseta que encontrei no lixo. E assim por diante. Mandem-me, por favor, um tênis. Pode ser tamanho grande, embora eu tenha pé pequeno. Não me desagradaria nada fingir que tenho pé grande. Dá à pessoa uma certa importância. E depois, quanto maior o tênis, mais visível ele é. E, como diz o meu vizinho aqui, visibilidade é tudo na vida.


Moacyr Scliar

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Paratodos

Sabe, não restrinjo amizade: tenho amigos dos mais novos aos mais velhos. Em todos eles enxergo aquilo que, em mim, me salva do que tenho de pior. Creio em cada um feito quem ora, abraço-os como quem adentra um templo.

Nos mais velhos, vejo como é boa a alegria da infância, sábia que só. Que são os meus amigos mais velhos aqueles que mais se mostram dispostos a rir comigo, de mim, para mim; como se a maturidade viesse para ensinar a volta pra casa, um andar em linha reta que revela, doravante, o começo – já tão diferente, não pelo caminho, mas por quem nele se prolonga.

Dos mais novos, percebo como é belo o erro e o direito de tentar de novo. Sempre preferi os errados, falha de caráter, vai saber. Admirá-los crescer é perceber o quanto suas maiores besteiras insistem em desaguar naquilo que hoje guardam de mais sublime e belo. Meus amigos mais novos espelham em cravos, curvas e palavrões a responsabilidade que insisto em acreditar não ter. Que insisto em acreditar que não têm comigo.

È fato. Vivemos as pessoas que amamos. Cuidar dos nossos é mais que altruísmo – sentimento feio, desses que se julgam mais. É, na verdade, perceber-se pequeno e dizer em gesto ‘olha, preciso de você’, ‘olha, toma o que é teu’.

Vai ver é por tudo isso que não consigo enxergar relações funcionais. Não somos cargos e papéis, postura e fingimento. Somos homens e mulheres, todos tão carentes de carinho, que se vestem de roupa, mentira e dúvida só pra se esconder da vida. De tudo que a vida dá.

Quem sabe é a lua, não sei. Só queria dizer que tudo o que construímos – todo dia – é tão importante! Pois, olha, “eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar de remar também”. É de um cara chamado Caio Fernando Abreu, mas poderia ser da gente.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Dissertação - 2º Ano

Inicialmente, vimos que a dissertação deve contemplar dois aspectos:

1- Exposição do ponto de vista. É aqui que se apresenta a visão de mundo do autor.

2- Defesa do ponto de vista. Neste ponto, é preciso que se procure convercer os leitores do ponto de vista adotado.

A estrutura ortodoxa da dissertação se apresenta da seguinte maneira:

Introdução - É nela que o ponto de vista é exposto/adotado.

Desenvolvimento - Nele se apresentam os argumentos que sustentam o ponto de vista adotado. Para que fique mellhor organizado, coloque um argumento por parágrafo.

Conclusão - Aqui cabem as considerações finais, a síntese dos pontos centrais do texto, ou ainda propostas de atuação real, que visem a solução do problema discutido.


Dois aspectos são fundamentais para um bom texto:

Coesão - Capacidade de interligar as informações presentes num texto. Lembre-se de que o texto deve manter uma sequência lógica, não informações soltas.

Coerência - Um texto deve seguir normas internas e acordos internos. Externamente, deve estar de acordo com o tema proposto e demais exigências (ter título, ser feito em prosa, por exemplo). Internamente, é importante que não se traia, isto é, que mantenha um mesmo ponto de vista do começo ao fim.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

3º Ano - Texto de apoio

Segue um texto que pode servir de suporte à produção da última aula.

Do livro Para uma menina com uma flor, de Vinicius de Moraes, 1965.


Amigos meus

Ah, meus amigos, não vos deixeis morrer assim... O ano que passou levou tantos de vós e agora os que restam se puseram mais tristes; deixam-se, por vezes, pensativos, os olhos perdidos em ontem, lembrando os ingratos, os ecos de sua passagem; lembrando que irão morrer também e cometer a mesma ingratidão.
Ide ver vossos clínicos, vossos analistas, vossos macumbeiros, e tomai sol, tomai vento, tomai tento, amigos meus! – porque a Velha andou solta este último Bissexto e daqui a quatro anos sobrevirá mais um no Tempo e alguns dentre vós – eu próprio, quem sabe? – de tanto pensar na Última Viagem já estarão preparando os biscoitos para ela.
Eu me havia prometido não entrar este ano em curso – quando se comemora o 19640 aniversário de um judeu que acreditava na Igualdade e na justiça – de humor macabro ou ânimo pessimista. Anda tão coriácea esta República, tão difícil a vida, tão caros os gêneros, tão barato o amor que – pombas! – não há de ser a mim que hão de chamar ave de agouro. Eu creio, malgrado tudo, na vida generosa que está por aí; creio no amor e na amizade; nas mulheres em geral e na minha em particular; nas árvores ao sol e no canto da juriti; no uísque legítimo e na eficácia da aspirina contra os resfriados comuns. Sou um crente – e por que não o ser? A fé desentope as artérias; a descrença é que dá câncer.
Pelo bem que me quereis, amigos meus, não vos deixeis morrer. Comprai vossas varas, vossos anzóis, vossos molinetes, e andai à Barra em vossos fuscas a pescar, a pescar, amigos meus! – que se for para engodar a isca da morte, eu vos perdoarei de estardes matando peixinhos que não vos fizeram mal algum. Muni-vos também de bons cajados e perlustrai montanhas, parando para observar os gordos besouros a sugar o mel das flores inocentes, que desmaiam de prazer e logo renascem mais vivas, relubrificadas pela seiva da terra. Parai diante dos Véus-de-Noiva que se despencam virginais, dos altos rios, e ride ao vos sentirdes borrifados pelas brancas águas iluminadas pelo sol da serra. Respirai fundo, três vezes o cheiro dos eucaliptos, a exsudar saúde, e depois ponde-vos a andar, para frente e para cima, até vos sentirdes levemente taquicárdicos. Tomai então uma ducha fria e almoçai boa comida roceira, bem calçada por pirão de milho. O milho era o sustentáculo das civilizações índias do Pacífico, e possuía status divino, não vos esqueçais! Não abuseis da carne de porco, nem dos ovos, nem das frituras, nem das massas. Mantende, se tiverdes mais de cinqüenta anos, uma dieta relativa durante a semana a fim de que vos possais esbaldar nos domingos com aveludadas e opulentas feijoadas e moquecas, rabadas, cozidos, peixadas à moda, vatapás e quantos. Fazei de seis em seis meses um check-up para ver como andam vossas artérias, vosso coração, vosso figado.
E amai, amigos meus! Amai em tempo integral, nunca sacrificando ao exercício de outros deveres, este, sagrado, do amor. Amai e bebei uísque. Não digo que bebais em quantidades federais, mas quatro, cinco uísques por dia nunca fizeram mal a ninguém. Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido.
Mas sobretudo não morrais, amigos meus!

terça-feira, 27 de abril de 2010

1º Ano - Advérbios

Os advérbios são termos modificadores por natureza. Estão geralmente associados ao verbo, mas também podem caracterizar o adjetivo, outro advérbio e mesmo toda a sentença.


Advérbio modificando verbo

Nós não fazemos nada sem a permissão do professor. - Perceba que o termo 'não' está negando a ideia colocada pelo verbo fazer: ao invés de executar a ação, o que se dá é a não execução.


Advérbio modificando adjetivo

O professor de Gramática é muito simpático. - Aqui, temos o termo 'muito' intensificando o adjetivo 'simpático', isto é, ampliando seu significado.


Advérbio modificando outro advérbio

Meu professor, que é gago, lê muito mal. - Veja que o verbo 'lê' está sendo modificado pelo advérbio 'mal', indicando o modo como o professor executa a habilidade de ler. Por sua vez, o termo 'muito' amplia o significado de 'mal'.


Advérbio modificando toda a sentença

Lamentavelmente, os alunos ficaram de recuperação. - O advérbio, neste caso, é aplicado a toda a sentença, isto é, garante uma ideia de modo a todo o enunciado.



Tipos de advérbio


Essas palavras podem apresentar diversos sentidos, entre eles:

Modo - demoradamente; bem; mal; melhor; pior.

Tempo - hoje; ontem; amanhã; breve; imediatamente.

Intensidade - muito; pouco; menos; mais; bastante.

Negação - não; nunca; nem; jamais.

Afirmação - sim; sempre; realmente.

Lugar - aqui; lá; longe; abaixo.

terça-feira, 13 de abril de 2010

9º Ano - Tipos de discurso

Em uma narração, as falas de um personagem podem aparecer de três maneiras:

Discurso direto: quando temos a fala de maneira explícita, introduzida por sinais de pontuação adequados.

ex.: E Deus disse: - Faça-se a luz! - Aqui, temos o narrador dando espaço ao personagem 'Deus' para que exponha sua fala.

Discurso indireto: ocorre quando o narrador coloca, com suas palavras, aquilo que teria sido dito pelo personagem.

ex.: E Deus disse que a luz deveria ser feita. - Aqui, vemos o narrador falando pelo personagem. O discurso indireto é caracterizado pelo uso de verbos de elocução, isto é, verbos que introduzem uma fala (falou, disse, perguntou, argumentou e outros similares) e por conjunções, geralmente o 'que'.

É importante colocar que em o discurso direto é marcado pelo tempo presente, enquanto o indireto utiliza o passado. Além disso, se o direto usa termos que aproximam os fatos, como 'aqui', 'agora', 'hoje'; o indireto vai usar do afastamento, com 'lá', 'naquele dia'.

Discurso indireto livre: é indentificado quando no texto não se pode dizer ao certo se a elocução é do narrador ou do personagem, ou seja, o que está sendo posto pode tanto ser de um quanto de outro.

ex.: Seguir por aquele caminho, era o que fazia o homem. Não voltar os olhos para trás, é preciso seguir. Sim, é preciso. E seguia.

Aqui, vemos que aquilo que está destacado, pode tanto ser referente ao narrador quanto ao homem que segue pelo caminho. Quado temos tal 'confusão', estamos diante do discurso indireto livre.

9º Ano - Frase, oração e período

Devemos estabelecer três definições, que certamente acabam por se relacionar:

Frase - É o conjunto de termos que estabeleça, dentro de um contexto, sentido. Não vê o verbo como obrigatoriedade.

ex.: Fogo! - Esta palavra, quando aplicada a um contexto, pode apresentar diversos sentidos, tornado-se, assim, uma frase.

"Após a devida preparação do prisineiro, ouviu-se apenas a voz do capitão:

- Fogo!"

Oração - Sua exigência fundamental é a existência de verbo, assim, para cada verbo ou locução verbal teremos uma oração. Pode ou não consituir uma frase, isto é, possuir sentido completo.

ex.: O menino não se importava com as críticas. - Oração com sentido completo.

ex.: O menino disse / que não ficaria mais na casa. - Perceba que a primeira oração, se vista separadamente, não possui sentido completo, exige a segunda. Dessa forma, ainda que seja oração, não é uma frase.

Período - Pode ser formado por uma ou mais orações.

Período Simples - Formado por uma oração: Os alunos são muito estudiosos.

Período Composto - Formado por mais de uma oração: Os alunos disseram / que são estudiosos, / vão bem na prova / e não ficarão de recuperação.

Veja que as orações em seu interior são separadas nas vírgulas ou nas conjunções.

1º Ano - Determinantes

Algumas classes de palavras têm a função de modificar o substantivo, são os chamados Determinantes - possuem este nome pois determinam, isto é, especificam informações sobre os substantivos. Vejamos o exemplo:

O excelente professor mudou a vida daqueles três alunos.

Temos os substantivos 'professor', 'vida' e 'alunos', que, por sua vez, sofrem caracterizações impostas por artigos ('o' e 'a'), adjetivos ('excelente'), numerais ('três') e pronomes adjetivos ('daqueles'). Vamos a cada um dos casos.


Artigo


Temos um primeiro aspecto, que diz respeito ao grau de intimidade com aquilo que é designado.
Quando desconhecemos ou pouco conhecemos o ser representado pelo substantivo, utilizamos o artigo indefinido:

ex.: Um menino anda pela rua.

O que não acontece quando nos referimos a seres já conhecidos:

ex.: O Rodrigo faltou porque está doente.


Os artigos aparecem em pequeno número, mas têm uma significativa importância no sentido de um texto.

Conheci um cara bom em Gramática.

Conheci o cara em Gramática.

Veja que com a substituição do artigo indefinido pelo definido, mudamos radicalmente o sentido do que é posto: o 'cara' da primeira oração não é tão bom quanto o da segunda, já que o artigo definido garante uma ideia de importância, que não é dada pelo indefinido.


Adjetivo

O adjetivo é mais clássico modificador do substantivo, sendo essa a sua única função. É importante considerar que a posição do adjetivo diante do substantivo também influi na intensidade do modificador em questão.

ex.: As belas garotas não se interessam por nós.

As garotas belas não se interessam por nós.

Observe que a anteposição do adjetivo garante um maior destaque a ele na primeira frase.


Numeral

Dividem-se em dois grupos, os ordinais e os cardinais.
Numerais ordinais garantem uma ideia de ordem: primeiro, segundo, terceiro.
Numerais cardinais sugerem quantidade: um, dois, três, meio.

Como são números, tendem a passar um sentido de impessoalidade, visando apenas a informação concreta.


Pronomes Adjetivos

Os pronomes podem se apresentar de duas maneiras:

Pronomes Substantivos - ocupam o lugar de um substantivo, valendo por um.

ex: Este é melhor que aquele. - tanto o pronome "este" quanto o "aquele" estão ocupando o lugar de substantivos.

Pronomes Adjetivos - associam-se a um substantivo, caracterizando-o, assumindo função de um adjetivo.

ex: Este livro é muito bom - perceba que não é qualquer livro, mas "este" de que falo.

Importante: Apenas os Pronomes Adjetivos fazem parte do grupo dos Determinantes, pois apenas eles modificam um substantivo!!!

1º Ano - Substantivo e Verbo

No que se refere ao substantivo, cabe colocar, inicialmente, os seguintes aspectos:

1- No campo semântico, isto é, do sentido, dá nome às coisas e aos seres, reais ou imaginários.
Por exemplo, a palavra 'casa' dá nome ao lugar onde se vive.

2- Em sua morfologia - capacidade da palavra se adaptar a diferentes contextos -, varia em gênero (masculino e feminino) e número (singular e plural). Tomemos como exemplo a palavra 'menino', que possui o feminino 'menina' e o plural 'meninos' - veja, trata-se da mesma palavra, mas que sofre adaptações para dar conta dos contextos nos quais pode se inserir.

3- No âmbito sintático - que dá conta das funções que um termo pode assumir em um discurso -, o substantivo ocupa, majoritariamente, as funções de núcleo do sujeito e do objeto em uma oração.

Ex: Os alunos farão uma boa prova. - Vemos 'alunos' como núcleo do sujeito e 'prova' como núcleo do objeto.


Temos, dentro do grupo dos substantivos, subclassificações. São elas:

Substantivos próprios: designa um representante de uma espécie - Maranhão, Brasil, Jesus.

Substantivos comuns: nomes que designam os seres de uma espécie de forma generalizada - estado, país, homem.

Concretos: nomeia seres de existência independente, reais ou imaginários - rua, garoto, saci.

Abstratos: nomeia atributos que se referem aos seres, isto é, coisas que para existir, precisam estar associadas a um ser - carinho, ingenuidade, amor, dor.

Coletivos: Nomeiam agrupamentos de seres de uma mesma espécie - cáfila (agrupamento de camelos), cardume (agrupamento de peixes).


Sobre verbos, cabe colocar:

1- Em seu aspecto semântico, dá conta de ações, estados e processos.
2- Morfologicamente, apresenta variações de tempo (passado, presente e futuro), de modo (indicativo, imperativo e subjuntivo), de pessoa (1ª, 2ª e 3ª) e de número (singular/plural).
3- Sintaticamente, funciona como termo mais importante (núcleo) da oração.

segunda-feira, 8 de março de 2010

9º Ano - Vocativo

Vocativo vem do verbo latino "vocare", que significa "chamar". Assim, vocativo é a pessoa "chamada" numa frase, isto é, a quem se dirige o pessoa que fala.

Exemplo:

João, Maria virá mais cedo hoje!

Veja que João (o vocativo, isto é, a "pessoa chamada") vem isolado por vírgula - esta é uma característica marcante do vocativo, mesmo quando em outras posições na frase:

Maria virá mais cedo, João!

Maria, João, virá mais cedo!


É importante não confundir vocativo com sujeito. No exemplo que utilizamos, temos João como vocativo e Maria como sujeito, isto é, como núcleo da ação verbal (é ela quem virá mais cedo).

Obs: Sempre que na frase surgir uma interjeição de chamamento, ela fará parte do vocativo:

Ô João, Maria virá mais cedo!

segunda-feira, 1 de março de 2010

1º Ano - Revisão

Sobre "Seleção" o que mais interessa é estudar a utilização de variantes da mesma língua para cada contexto, isto é, o fato de que falar bem significa utilizar uma linguagem adequada ao público a quem o falante se dirige e que evidencie aquilo que se quer falar.
Não esqueça de que o som também se leva em conta no processo de seleção, bem como a busca do termo mais próximo daquilo que se deseja dizer.

Exercícios:

Certa vez, o poeta Popular Zé da Luz sentiu-se incomodado com a afirmação de que só se é possível falar de amor de forma difícil, visto que é um sentimento muito nobre. Para rebater a afirmação, compôs o seguinte poema:

Ai se sesse

Se um dia nóis se gostasse
Se um dia nóis se queresse
Se um dia nóis dois se empareasse
Se juntim nós dois vivesse
Se juntim nóis dois morasse
Se juntim nóis dois drumisse
Se juntim nóis dois moresse
Se pro céu nóis assubisse
Mas porém acontesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tulice
E se eu me arriminasse
E tu com eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nóis dois ficasse
Tarvês que nóis dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse

1- O poema claramente fere as normas gramaticais. Com que intenção isso é feito pelo autor?
2- Que tipo de variante do Português é utilizada pelo poema?
3- Se o poema fosse escrito em Português culto, teria o mesmo efeito? Justifique.
4- De acordo com a leitura do poema, como podemos "traduzir" os termos "empareasse", "arriminasse" e "bucho"?
5- O som é fundamental no processo de Seleção de Palavras, principalmente em poesia, em que som também faz sentido. Pois bem, qual o sentido trazido pelo ritmo do poema?
6- Passe o poema, desde o título, para a norma culta do Português.


Sobre "Combinação" cabe estudar que frases mal combinadas gramaticalmente podem gerar ambiguidade. Comunicar-se bem passa por possuir um texto claro, sem multiplicidade de sentidos.

Exercícios:

Amor é fogo que arde sem se ver
é ferida que doi e não se sente
é um contentamento descontente
é dor que desatina sem doer

É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É um não contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor
É ter com quem nos mata lealdade

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

1- O texto se constitui a partir de Oximoros, isto é, a partir do emprego de pensamentos que se excluem. Qual é o resutado de tal combinação de opostos?
2- Reescreva os versos da última estrofe na ordem direta.
3- A que termo se refere a expressão "seu favor"?

4- Um famoso poema de Manuel Bandeira tem o nome "Poema só para Jayme Ovalle", intencionalmente ambíguo. Quais são os sentidos possíveis para o título?
5- Reescreva a frase do exercício anterior de modo produzir apenas um sentido.


Obs.: Os exercícios de 1 a 3 foram adaptados de material do Sistema Ânglo de Ensino.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

9º Ano - Revisão sobre Objeto

Identifique os verbos e classifique seus respectivos objetos:

1- "Nós merecemos a morte
porque somos humanos
e a guerra é feita por nossas mãos" - Cecília Meireles

2- O caçador o tigre matou.

3- Você já se olhou no espelho?

4- Camões compôs famosos sonetos.

5- O novo carro agradaria a todos.

6- Ele me vendeu o carro hoje pela manhã.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

8º Ano - Pronomes

Primeiro, vimos que "pronome" significa algo como "no lugar de um nome". Então, podemos dizer que são palavras usadas para substituir os nomes (substantivos), para, entre outras coisas, evitar a repetição de palavras:

Ricardo é meuNegrito amigo. Ricardo é muito legal. --- Para evitarmos esse tipo de construção, simplesmente trocamos o termo "Ricardo" da segunda frase pelo pronome "ele".

Ricardo é meu amigo. Ele é muito legal.

Dizemos que o pronome "ele" foi usado para manter a coesão, isto é, a ligação entre as informações de um texto.

2º Ano - Sujeito

Inicialmente, precisamos fazer uma reparação: não mais veremos o Sujeito como "aquele que pratica uma ação", pois, como vimos, existem muitos casos em que tal definição não se encaixa, como em:

João morreu.

Aqui, vemos que, ainda que o termo João seja intuitivamente colocado como Sujeito, definitivamente não pratica qualquer ação (a não ser que tenha se matado).
O erro está em não se atentar para a noção de que a definição de Sujeito é estritamente gramatical: ele é aquele que rege o verbo.
Vejamos o que segue:

O menino pegou o doce.

Caso coloquemos o objeto "doce" no plural, não veremos qualquer alteração no verbo:

O menino pegou os doces.

Entretanto, se mexermos no termo "menino", pluralizando-o, temos que obrigatoriamente pluralizar também o verbo:

Os meninos pegaram os doces.

Assim, vemos que o chamado Sujeito não é obrigatoriamente um praticante de ação, mas sim o termo que determina a forma verbal.


Tipos de Sujeito

Simples - É aquele formado por um único núcleo.

Os alunos são fofinhos.

Importante: Não confundir núcleo com quantidade de palavras! O sujeito simples pode ser formado por mais de uma palavra (os alunos), mas por apenas um núcleo (alunos).
Também não confunda com singular e plural! O núcleo pode designar vários seres e assim mesmo ser um Sujeito Simples (As meninas chegaram cedo)

Composto - É formado por mais de um núcleo.Negrito

Os alunos e as alunas são fofinhos.

Oculto ou Elíptico - É aquele que pode ser determinado, mas não está explícito na oração.

(Eu) Sou um fofinho.

Ora, o verbo "sou" pede, obrigatoriamente, a primeira pessoa do singular, portanto o sujeito será o termo "eu".

Indeterminado - Em nossa língua, o uso da terceira pessoa do plural sem sujeito declarado transmite a ideia de indeterminação:

Quebraram o vaso.

Como se vê, percebe-se que alguém quebrou (logo, temos Sujeito), mas não se pode determinar quem. Dessa maneira, classificamos o Sujeito como Indeterminado.

Inexistente - Ocorre quando utilizamos verbos que não exigem um Sujeito - verbos que designam fenômenos naturais:

Choveu ontem.

Mas cuidado!! Caso o ocorrido seja declarado, teremos sujeito:

Choveu canivete!

Na frase, se colocarmos o termo "canivete" no plural, teremos que pluralizar também o verbo:

Choveram canivetes!

Portanto, temos um Sujeito Simples (canivete).

3º Ano - Tema para redação

A Novidade - Letra de Gilberto Gil e música de Os Paralamas do Sucesso


A novidade veio dar à praia
na qualidade rara de sereia
metade o busto de uma deusa maia,
metade um grande rabo de baleia

A novidade era o máximo
do paradoxo estendido na areia
alguns a desejar seus beijos de deusa,
outros a desejar seu rabo pra ceia

Oh, mundo tão desigual!
Tudo é tão desigual!
De um lado esse carnaval,
do outro a fome total!

E a novidade que seria o sonho
o milagre risonho da sereia
virava um pesadelo tão medonho
ali naquela praia, ali na areia

A novidade era a guerra
entre o feliz poeta e o esfomeado,
estraçalhando uma sereia bonita,
despedaçando o sonho pra cada lado

Oh, mundo tão desigual!
Tudo é tão desigual!
De um lado esse carnaval,
do outro a fome total!



Para ver e ouvir www.youtube.com/watch?v=F9NNawUy7Do

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

2º Ano - Tipos de Comentário

Primeiramente, precisamos reformular nosso conceito acerca do que é um texto.
De um modo geral, tínhamos a noção de que ele apenas se refere à modalidade escrita, o que é um equívoco. Texto é, para nós, alunos do Ensino Médio, toda e qualquer troca de informação. Assim, sempre que algo é transimido com sucesso, temos um texto (em sua forma verbal escrita ou oral, através de figuras, símbolos etc).

No que se refere ao texto escrito, vemos três tipos básicos:

- A narração - Entendida como o encadeamento de fatos (reais imaginários). É, de forma simples, contar uma história.

- A descrição - É o retratamento de algo, alguém ou alguma situação, promovendo detalhes do objeto descrito.

- A dissertação - Trata-se da adoção e defesa de um ponto de vista acerca de um determinado assunto, visando o convencimento do leitor.

Em dissertação, o ponto de vista é defendido através dos chamados comentários, que são maneiras distintas de argumentar.

Comentário por tradução - A saída de jovens talentos para o exterior ocorre cada vez mais cedo em nosso futebol, ou seja, ou os clubes oferecem melhores condições aos atletas da base, ou teremos campeonatos cada vez mais fracos.

Comentário por contraste - Tanto em clubes do Rio quanto de São Paulo a saída de jogadores ocorre cada vez mais cedo, mas o primeiro oferece menos estrutura que o segundo, perdendo mais jogadores.

Comentário pela causa - A saída de jovens talentos para o exterior ocorre cada vez mais cedo em nosso futebol por causa da falta de inventimento dos clubes.

Comentário pela consequência - A saída de jovens talentos para o exterior faz com que nossos campeonatos fiquem cada vez mais fracos.

Comentário pela finalidade - A saída de jovens talentos para o exterior ocorre cada vez mais cedo em nosso futebol em função do interesse financeiro que norteia as decisões tomadas pelos clubes brasileiros.

Comentário pela condição - Só deixaremos de perder nossos jovens talentos se os clubes investirem na base.

Comentário por analogia - A saída de jogadores de nosso país se assemelha ao movimento das aves migratórias: nos deixam ainda jovens e só retornam no fim de sua jornada.

Comentário por concessão - Embora os clubes invistam na base, nossos jogadores saem do país cada vez mais cedo.

1º Ano - Seleção e Combinação de Palavras

Como vimos, a língua funciona como um recorte do pensamento, portanto o que expressamos linguísticamente busca apenas se aproximar do que pensamos, não sendo, assim, uma tradução exata.

Para nos expressarmos verbalmente, passamos por dois processos:

Seleção lexical - Nada mais é do que o processo de escolha das palavras que utilizaremos. Leva em conta três pontos:

- A precisão do conceito - É a escolha do termo que melhor traduz a ideia que se quer transmitir, como a língua busca se aproximar do pensamento, aqui se seleciona a palavra mais apropriada para o conceito que queremos.

- Valor social - Falar corretamente não significa necessariamente obedecer regras gramaticais, mas adaptar seu vocabulário ao público com quem se fala. Ora, um palestrante que falará sobre doenças sexualmente transmissíveis para alunos do ensino médio não utilizará o mesmo vocabulário quando tratar com alunos de uma faculdade de Medicina. Em outras palavras, escolhemos palavras distintas em situações distintas.

- Sonoridade - Muitas vezes temos que nos preocupar com os termos escolhidos para não gerarmos sons desagradáveis ou indecorosos, que trarão desprestígio ao sentido do que falamos.


Combinação das palavras

Não basta escolher os termos que serão utilizados, é preciso combiná-los de forma a produzir sentido, flexionando os termos de acordo com a necessidade (tempo e número, por exemplo). A combinação adequada de palavras nos permite evitar a ambiguidade, produzindo, dessa forma, um texto mais claro.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Poesia Lírica - 9º Ano

Uma poesia trabalha sempre com três dimensões:

Conceitual - Nela está aquilo que a poesia quer dizer, o sentido propriamente dito do poema - ou, o que é mais comum, os sentidos do poema. As demais dimensões funcionam como auxiliadoras da dimensão conceitual.

Sonora - Aqui se encontra tudo aquilo que se refere ao campo dos sons: o ritmo, a rima, a métria, a musicalidade. Tudo isso ajuda na construção da dimensão conceitual.
Como exemplo, vejamos um excerto da música "Relógio baião", de Luiz Gonzaga:

"O tic tac do relégio
que do norte vem
é cadência bem marcada
que o baião tem"

Como podemos ver, a letra, que diz que o som do baião lembra o som do relógio, é ajudada pelo próprio ritmo do poema, que imita justamente um "tic tac". Então, tanto conceito quanto som estão fazendo sentido.

Das Imagens - Aqui se encontra tudo aquilo que pode ser "visualizado" em um poema, quer dizer, as imagens que o poema produz em nossa mente quando executamos sua leitura.
Vejamos um excerto da música "Shimbalaiê", de Maria Gadú:

"Pensamento tão livre quanto o céu
imagino um barco de papel
indo embora pra não mais voltar
tendo como guia Iemanjá"

Claramente, ao lermos ou ouvirmos a letra nos surge a imagem de um barco de papel navegando: aí está a dimensão das imagens!


Nas aulas, já vimos alguns dos recursos utilizados em poesia. São eles:

Paralelismo - É a repetição de um ou mais versos ao longo de um poema. Não confudir com refrão, que é a repetição de uma determinada estrofe ao fim de cada estrofe do poema.
Temos um exemplo de paralelismo na canção "Beleza pura", de Caetano Veloso:

"Não me amarra dinheiro não
Mas formosura
Dinheiro não
A pele escura
Dinheiro não
A carne dura
Dinheiro não"

O verso "dinheiro não" é repetido, temos, assim, um caso de paralelismo.

Metáfora - A palavra vem do grego e significa "mudança de sentido", isto é, trata-se da transformação de um sentido próprio em figurado. Em outras palavras, é uma comparação - mas sem a utilização da palavra "como" - entre dois termos que normalmente não são equivalentes, , com um deles emprestando sentido ao outro.
Temos como exemplo a frase do poeta Fernando Pessoa:

Meu coração é um balde despejado.

Há aqui a comparação entre o coração do eu-lírico com um balde despejado, mas sem o uso do termo "como"; além disso, o termo coração passa a possuir características de um balde despejado, ou seja, algo que já esteve cheio, mas que agora é vazio.

Oximoro - É o casamento de pensamentos opostos numa só expressão; seu resultado é o paradoxo, que é um conceito que contraria a lógica e o senso comum.
Como exemplo temos a famosa frase do personagem Chaves:

Foi sem querer querendo.

Ora, é impossível fazer algo sem querer e ao mesmo tempo querendo fazer.


Curiosidade:

Você sabe a diferença entre poema e poesia?

A poesia é o conjunto de todos os poemas de um livro ou de um autor (A poesia de Carlos Drummond de Andrade, ou seja, a obra dele); já o poema é apenas a unidade (O poema "Mãos dadas" é de Carlos Drummond de Andrade).

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Poesia lírica – 8º Ano

A poesia é dividida em três grandes gêneros:

- Épica – Nela se dá a narração de um passado heroico (real ou imaginário), seja de um povo ou de um único personagem: seus grandes feitos são contados, com a finalidade de empregar a esse povo/ personagem muito valor.

Como exemplo, podemos citar a Ilíada, que conta a história da Guerra de Tróia.


- Dramática – Aqui também existe a narração, mas a história se conta através da encenação teatral. Em algumas peças, o texto é todo feito em versos, como “Romeu e Julieta” e “Sonhos de uma Noite de Verão”, de Shakespeare.

É importante não confundir “drama” com sentimentalismo, visto que a palavra está aqui sendo empregada com o sentido de “representação”.

- Lírica – É a poesia que coloca o “eu” evidência. Nela se apresentam os sentimentos, vontades, opiniões e sensações da primeira pessoa.

Lembre-se de que a poesia lírica não contempla apenas poesias de amor, mas aquelas que demonstrem qualquer sentimento do “eu”.

Outro ponto importante é não confundir o autor do poema com o eu – lírico. O primeiro é aquele que escreveu o poema, já o segundo é a voz do próprio poema, que não precisa sequer ser do mesmo sexo que o autor. Ora, um autor pode muito bem escrever um poema como se fosse outra pessoa, portanto autor e eu – lírico são bem diferentes.